sábado, novembro 22, 2008

NARITA #160 - 22.11.2008

Boa noite! Esta semana o voo de Narita teve partida e chegada na mesma província. Durante uma hora, percorremos o antigo reino de Ryukyu, nos territórios mais a Sul do Japão, e enchemos a cabine de voo com os sons e a cultura de Okinawa.

Partida do Terminal 107.9. Aeroporto Internacional de Tóquio: Narita.

São 169 ilhas dispostas entre as actuais Indonésia, Filipinas, Coreia, China e, claro, o restante território japonês. A província de Okinawa foi, durante muito tempo, um reino independente, o que levou a que nesta parte do Japão se desenvolvesse uma cultura e história bem diferentes do resto do país. Diz-se que, devido aos movimentos comerciais e à proximidade geográfica, a cultura de Okinawa foi mais influenciada pela cultura chinesa que pela japonesa – sempre muito disputado e centro de grandes mudanças, foi aqui que nasceram artes marciais como o karaté, no longínquo século XVI.
Administrado pelos Estados Unidos durante 27 anos, só em 1972 o arquipélago de Okinawa foi devolvido ao Japão

No meio de todas estas alterações políticas, uma forte cultura sempre se manteve e foi desenvolvendo em Okinawa.
O Narita de hoje começa a viagem a esta zona do Japão com uma banda originária da ilha de Ishigaki. Os Begin dão o mote para a descolagem com os sons de sanshin, um instrumento semelhante a um banjo de 3 cordas, típico de Okinawa, que se pode ouvir em Schimanchu nu Takara.

01. Begin - Shimanchu nu Takara
02. Kina Shoukichi and Champloose - Haisai Ojisan

Quando Kina Shoukichi nasceu, Koza ainda não fazia parte da cidade de Okinawa. Na verdade, Koza foi uma das divisões que a administração americana estabeleceu na cidade de Okinawa, alterando as que o regime japonês tinha criado anteriormente. A zona criada inicialmente acabou por ir crescendo e ganhando importância, tornando-se cidade em 1956. Palco de variados motins e confrontos com a administração norte-americana, Koza acabaria por, juntamente com a antiga zona de Misato, gerar a nova cidade de Okinawa, quando o Japão recuperou a soberania sobre o território.
Kina Shoukichi ainda assistiu a muito deste processo, nascido em 1948 na zona de Koza. Durante os anos 70 e 80 teve um papel determinante na cena folk rock que se desenvolvia no Japão, nomeadamente com sucessos como Haisai Ojisan que ouvimos. O actual membro da Casa de Conselheiros e activista pela paz, fazia-se geralmente acompanhar dos Champloose, a sua banda, tal como em Agarizachi.

03. Kina Shoukichi and Champloose – Agarizachi
04. Nēnēs – Kunjan Sabuki

No panorama folk, Okinawa teve uma forte expressão musical. Sempre rodeados dos instrumentos tradicionais, vários artistas e bandas foram construindo uma sonoridade muito típica. Mesmo com a chegada dos anos 90 e o surgimento das girls bands, em Okinawa certas marcas sonoras permaneceram. Exemplo disso são as Nēnēs, que apesar de terem mudado várias vezes de formação e hoje em dia nenhum dos membros originais se encontrar na banda, mantiveram algo constante na sua carreira: o sanshin a acompanhá-las, enquanto cantavam músicas tradicionais de Okinawa, as Shima Uta.
A presença americana, no entanto, conseguiu por vezes fazer-se sentir na música de Okinawa. Reflexo ou não disso, as Nēnēs decidiram rever uma das mais famosas músicas de Bob Marley, No Woman No Cry.

05. Nēnēs – No Woman No Cry
06. Rimi Natsukawa - Tingusa No Hana
07. Haruomi Hosono & Yellow Magic Band – Asatoya Yunta

Associada à música de Okinawa estão certos instrumentos e, também, muitas vezes, a percursão e a dança. Não é por isso de estranhar que o taiko, o grande tambor japonês, esteja associado a algumas das sonoridades vindas destas ilhas. Não aconteceu propositadamente, mas a música de Hidekatsu, natural de Taketomi, uma cidade do extremo Sul de Okinawa, acabou por começar a ser conotada com este tambor, já que muitos grupos de taiko usavam a sua música nas suas apresentações. Apesar de apresentar um som bastante moderno, Mirukumunari é completamente cantada em uchinaguchi, um dialecto de Okinawa e remete para o deus Miruku, o deus da boa colheita. Depois deste tema e do sucesso obtido junto dos grupos de taiko, Hidekatsu começou a compor especialmente para estes e a participar nos seus espectáculos e até digressões.
Ficámos então com o tema que lançou a carreira de Hidekatsu. Entretanto preparámos um comunicado especial para os fãs do Japão.

08. Hidekatsu – Mirukumunari

Braga prepara-se para acolher a performance de BIRUSHANAH, conceituado embaixador do experimentalismo que tradicionalmente caracteriza o movimento artístico contemporâneo predominante no Japão, mais propriamente na cidade de Osaka.
O evento contará ainda com a presença do psicadelismo dos barcelenses COSMIC VISHNU que surgem neste contexto como convidados especiais.
O certame realiza-se no PUZZLE bar e tem o seu início marcado para as 22 horas de Segunda-Feira, dia 24 de Novembro. Para os menos familiarizados com a cidade dos arcebispos, o Narita dá uma ajuda: o PUZZLE bar situa-se na Rua Nova de Santa Cruz, junto à rotunda da Universidade do Minho.

09. Rinken Band – Kansha Sabira

Existem mais particularidades na música de Okinawa do que esta hora de voo poderia mostrar. Em muitas coisas, a estrutura e a temática da música de Okinawa diferem das do restante Japão. Por exemplo, quando se fala da métrica das letras, enquanto a maioria do Japão utiliza a métrica 7-7-7-5, em Okinawa cada verso tem direito a mais uma sílaba. Dizem os peritos que assim se consegue exprimir melhor o sentimento de Okinawa. O Ryuka, verso tradicional de Okinawa, que começou por surgir nas cortes e nas classes mais altas, acabou por ser adaptado pelo povo, já que esta métrica não restringia tanto a expressão como o verso tradicional japonês. Mesmo a escala musical utilizada difere nesta região do Japão: o Ré e o Lá são suprimidos nas escalas, não se sabendo exactamente se pela proximidade aos sons indonésios se por derivação da escala normal.
Claro que estes são os elementos da tradicional música de Okinawa, mas ainda hoje muitos artistas seguem estas linhas, como os Rinken Band, um dos embaixadores das formas tradicionais da música de Okinawa. Para além da forma musical, esta banda que surgiu das cinzas das Nēnēs junta à sua actuação a também tradicional dança Eisa, um género cheio de ritmo, bastante vivo e jovem muitas vezes utilizado nos espectáculos tradicionais.
Para dançar mais um pouco e saborear a snonoridade de Okinawa, ficou mais um tema da Rinken Band, Chabirasai.

10. Rinken Band – Chabirasai
11. Natsuko Godai – Shurei No Mon

Nem só de músicos de Okinawa se faz o Narita desta semana; alguns músicos também se inspiraram no arquipélago e muito especialmente na vibrante cidade de Okinawa para escreverem as suas composições.
Natsuko Godai cantou sobre Shurei No Mon, ou Shureimon, uma das portas da cidade de Naha, a capital de Okinawa. Existente desde o século XVI, é a segunda porta do Castelo de Shuri e reflecte a forte influência chinesa nesta cidade.
Durante a II Grande Guerra Mundial, esta porta, como grande parte do Castelo de Shuri, foi destruída, tendo sido reconstruída graças a campanhas de apoio nos anos 50 e 60. O castelo, no entanto, levou mais tempo a ser reerguido.
Para os aficionados da notafilia, fiquem a saber que esta porta ou portão de Shureimon surge nas notas de 2000 yenes.

Não consta que tenha passado em Naha, mas a cidade de Okinawa deixou uma impressão tão forte em Kazufumi Miyazawa que este escreveu uma canção sobre Okinawa para os The Boom. Com elevada consideração pelo que viu em Okinawa, o músico inclui na canção vocabulário e instrumentos próprios de Okinawa, e a música acabou por ser um enorme sucesso, com versões por diferentes artistas e em diferentes idiomas. Shima Uta, literalmente significando a música da ilha, ficou no ar, enquanto nos preparámos para a aterragem deste voo.

12. The Boom – Shima Uta

Tempo de aterrar este voo de Narita. A hora de chegada foi a prevista. Nós regressamos para a semana, a partir das 21h de Sábado. Até lá, nós por cá e por lá, no Japão, despedimo-nos, esperando que tenham tido uma boa viagem nos ares de Okinawa! Para o final, um regresso aos anos 80 e a Neo Geo, um álbum de um artista que não é de Okinawa, mas que neste disco lhe dedica uma canção – Ryuichi Sakamoto aterra esta viagem com Chin Nuku Juushii, Okinawa Song! Boa noite!

13 - Ryuichi Sakamoto - Okinawa Song-Chin Nuku Juushii

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